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quarta-feira 25 de dezembro de 2019 às 07:36h

Chavismo lança ofensiva para frustrar reeleição de Guaidó como presidente da Assembleia

MUNDO, POLÍTICA


Juan Guaidó enfrenta seu momento mais delicado desde que, há um ano, assumiu o comando da Assembleia Nacional da Venezuela. Sua continuidade à frente do Parlamento, que foi o trampolim de seu desafio a Nicolás Maduro e lhe valeu o reconhecimento como presidente interino do país por mais de 60 Governos estrangeiros, que consideram o Poder Legislativo como a única instituição legítima do Estado, está em risco devido a mais uma ofensiva do chavismo. A crescente perseguição ao longo deste ano se intensificou com a denominada Operação Escorpião, uma manobra, orquestrada do Governo, para subornar deputados em troca de que não apoiem Guaidó, fazendo assim com que ele perca o controle do Parlamento em 5 de janeiro.

Segundo as denúncias feitas por vários líderes opositores ao EL PAÍS com a condição de manter o anonimato, alguns funcionários do Governo de Maduro estão orquestrando o suborno de deputados opositores, oferecendo somas milionárias para que votem contra Guaidó −que, pelo apoio recebido até agora, deveria ser reeleito em uma votação prevista para uma data próxima de 5 de janeiro, quando termina seu primeiro mandato como chefe da Assembleia. A manobra consiste, segundo as fontes consultadas, em uma oferta de pagamento em moeda estrangeira, em duas parcelas. O objetivo é corromper os deputados ou desencorajá-los de permanecer no cargo.

A bancada de oposição liderada por Guaidó é atualmente maior que a de Maduro. O Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV, que lidera o chavismo) tem 51 deputados, e a que representa o presidente da Assembleia, depois de várias divisões e deserções, ocupa 93 cadeiras. O quórum é alcançado com 84 deputados (no total, há 167 cadeiras) e o presidente e os membros da mesa da Assembleia são eleitos pela maioria simples dos votos dos participantes.

Mas, segundo dados da oposição publicado pelo El País, cerca de 27 deputados opositores estão no exílio e outros 29 estão sendo processados, sem que se leve em conta sua imunidade parlamentar. Dois deles, Juan Requesens e Gilber Caro, estão presos. Caro foi detido no fim de semana, depois de ter sido libertado em julho.

Não está claro, no momento, o que acontecerá com os votos desses deputados. Em uma tentativa de blindar a reeleição de Guaidó, a direção da Assembleia Nacional modificou o regulamento interno para possibilitar o voto a distância dos deputados que estão no exílio. No entanto, o Tribunal Supremo de Justiça, controlado por Maduro, emitiu em seguida uma sentença que declara nula essa medida. Francisco Torrealba, porta-voz do PSUV, argumentou: “Em nenhum Parlamento do mundo se obtém um quórum com deputados ausentes. Não se pode validar o voto de deputados que estão em um exílio dourado, que são fugitivos da justiça”. Torrealba previu que o Legislativo de 2020 será “um Parlamento imaginário”. A reeleição de Guaidó pode estar em perigo se alguns desses deputados não votar.

Paralelamente, Guaidó enfrentou nas últimas semanas uma exaustiva crise interna. As acusações de corrupção contra alguns membros da Comissão de Controladoria (tribunal de contas) provocaram uma tempestade na qual se misturam recriminações, desmoralização da sociedade e desconfiança entre os deputados. “Luis Parra, Luis Brito, Conrado Pérez, entre outros deputados afastados da Comissão de Controladoria, reuniram-se esta semana com políticos chavistas. A mudança de atitude que tiveram é muito evidente”, comenta um deputado, que preferiu não ser identificado.

“Alguns parlamentares vieram até nós para denunciar que lhes fizeram propostas financeiras em troca de seu voto, isso é uma realidade”, afirma a também deputada Delsa Solórzano, do Encontro Cidadão, dirigente sobre a qual recai a responsabilidade de concretizar a maioria necessária para que Guaidó seja reeleito.

Essas propostas são dirigidas a membros de um Parlamento cercado e sem recursos, no qual os representantes políticos não recebem seus salários há anos. Goyo Noriega, deputado do partido de Guaidó, Vontade Popular, fundado por Leopoldo López, foi expulso da sigla na sexta-feira, acusado de “trair a causa da liberdade”. Noriega agora acusa enfaticamente Guaidó e López de corrupção.

O Movimento pela Democracia e Inclusão, fundado por Nícmer Evans, organizou uma entrevista coletiva para formalizar a expulsão de Kelly Perfecto, deputada dissidente do chavismo, por supostamente ter aceitado uma oferta equivalente a 113.000 reais em troca de seu voto contra Guaidó. Perfecto, segundo fontes desse partido, admitiu que era verdade.

Ismael León, do Vontade Popular, apontou diretamente o ex-vice-presidente venezuelano Tareck El Aissami e David de Lima, ex-político oposicionista, como as pessoas que estão por trás da operação. Há deputados que temem que apareçam novos nomes. Legisladores que não quiseram ter seu nome revelado apontaram Andrés Avellino, ex-militante de oposição, como outro dos encarregados de fazer as propostas.

Guaidó é sustentado por um acordo selado entre os quatro principais partidos de oposição −Vontade Popular, Primeiro Justiça, Ação Democrática e Um Novo Tempo, o chamado G-4−, mas também pelo apoio decidido de algumas facções minoritárias. Esse pacto tem resistido às disputas e às críticas contra Guaidó, que são frequentes atualmente.

O acordo legislativo alcançado pelo partido Vontade Popular prevê a entrega das vice-presidências da Câmara a Ángel Medina, do Primeiro Justiça, e a Carlos Berrizbeitia, representante dos partidos minoritários.

Setores dissidentes moderados próximos a Henri Falcón, pertencentes à Concertação pela Mudança, com os quais o chavismo poderia encontrar pontos de concordância, têm uma presença legislativa muito pequena. A Fração 16 de Julho, que agrupa os deputados mais radicais contra o chavismo, pensou em apresentar a candidatura de Biaggio Pillieri à presidência do Parlamento, em uma clara tentativa de tomar distância de Guaidó. Sua força parlamentar, no entanto, é modesta.

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