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segunda-feira 23 de novembro de 2020 às 07:17h

Eleições municipais podem dar uma direção sobre as eleições 2022

NOTÍCIAS, POLÍTICA


Em 2000, o PT aumentou em 64% seu número de prefeitos eleitos, vencendo em capitais como São Paulo, Recife e Porto Alegre.

Resignado, o então presidente do PFL (atual DEM), Jorge Bornhausen, foi obrigado a reconhecer: “Não podemos contrariar a matemática. O PT ganhou a eleição. Nós perdemos”.

Na eleição seguinte, de caráter nacional conforme reportagem da Folha de S. Paulo, a dose se repetiu. O partido conquistou a Presidência, com Luiz Inácio Lula da Silva, e elevou a presença na Câmara dos Deputados em 54%.

Até hoje, petistas dizem que a vitória presidencial de 2002 deve-se muito à onda vermelha municipal de dois anos antes, até porque a campanha do partido usava a experiência em prefeituras como antídoto para a acusação de falta de preparo de Lula.

Nem sempre é possível enxergar com clareza, no entanto, os efeitos de uma eleição municipal sobre o cenário nacional, dizem analistas ouvidos pela Folha.

Com lógica própria e centrados em temas locais, os pleitos para prefeito e vereadores em geral servem mais como birutas de aeroporto, sinalizando para que lado o vento político sopra.

Com este raciocínio, o bom desempenho de partidos de centro no primeiro turno da atual eleição indicaria um desejo por mais moderação em 2022 e um rechaço de opções extremas à direita e à esquerda.

“As eleições municipais no Brasil têm uma magnitude talvez comparável só às da Índia. Elas fazem um rearranjo por baixo, movem o chão político do país”, diz o cientista político Jairo Nicolau, estudioso de eleições e pesquisador da FGV-CPDOC.

Segundo ele, pleitos locais são parte de uma alteração gradual no panorama político, e por isso podem apontar caminhos futuros. “Elas servem como uma mudança lenta do panorama. É como manobrar um navio”, compara.

O impacto mais claro dos resultados municipais se dá sobre as eleições para o Congresso, afirma Nicolau.

“Podemos prever um melhor desempenho do DEM, que cresceu nessa eleição, na Câmara dos Deputados em 2022. O deputado precisa do prefeito e do vereador, dos cabos eleitorais municipais”, afirma.

Para Nicolau, é provável que a eleição de 2022 veja uma recuperação das forças centristas no Congresso, de partidos como MDB, PSDB e DEM.

Mas não há a mesma garantia sobre a disputa presidencial. “Se isso vai se traduzir em um candidato competitivo para o centro depende de encontrar esse candidato”, afirma.

Uma análise das eleições municipais e nacionais dos últimos 20 anos mostra uma correlação clara entre disputas para prefeituras e o Congresso.

Nos anos em que esteve na Presidência, o PT aumentou seu número de prefeitos a cada eleição municipal até 2012, a última antes do início das crises política e econômica que atingiram duramente o partido. A bancada federal oscilou um pouco nesse período, mas sempre se manteve em patamares altos.

Quando o PT entrou na mira da Lava Jato e a popularidade da legenda despencou, o primeiro efeito foi sentido na eleição municipal de 2016, com queda de 59,8% de prefeituras. No pleito para o Congresso de 2018, a bancada na Câmara reduziu-se em 20,6%, embora ainda tenha sido a maior eleita.

O DEM viveu uma espiral de declínio desde que foi alijado do governo nacional. A partir de 2004, perdeu prefeitos em quatro eleições seguidas, sempre com grandes tombos. Numa espécie de retroalimentação, também foram quatro eleições seguidas vendo sua bancada na Câmara cair significativamente.

A recuperação só começou em 2018, seguiu na atual eleição municipal e, tudo indica, deve ser manter em 2022.

Para o cientista político Antonio Lavareda, eleições municipais e nacionais fazem parte de um mesmo “ecossistema político”. Tratar os dois pleitos como seres estranhos não faz sentido, segundo ele.

“O processo político é contínuo, ele não se interrompe e não recomeça com degraus diferentes conforme o tempo passa. Eleições municipais não caem de paraquedas”, afirma.

Lavareda afirma que apenas no Brasil a influência ou não de uma eleição regional sobre uma nacional é tema de controvérsia. “Em países como México, Argentina, França, Chile, Portugal ou Espanha, sequer esse tema é discutido de tão óbvio.”

O problema no Brasil, diz Lavareda, é a “selva partidária”, que dificulta estabelecer conexões diretas entre o desempenho regional e o nacional de uma legenda. Por isso, o mais apropriado é falar em tendências.
Uma dobradinha clara, para ele, ocorreu nas eleições municipais de 2016 e nacionais de 2018.

O PT foi praticamente varrido no pleito de 2016, que teve como protagonistas candidatos que não se definiam como políticos, como João Doria (PSDB) em São Paulo e Alexandre Kalil (então no PHS) em Belo Horizonte.

Dois anos depois, a antipolítica e o antipetismo deram o tom da vitória contundente de Jair Bolsonaro e de candidatos conservadores ao Congresso.

“A derrota do PT em 2018 estava desenhada em 2016. O pêndulo político e ideológico já naquela eleição caminhou para a direita”, diz Lavareda.

Em 2018, afirma, o que ocorreu foi uma troca de guarda nos partidos destinatários do voto conservador. “O eleitorado da direita deixou o PSDB e foi se refugiar em Bolsonaro”, diz.

Para 2022, ele projeta uma recuperação de partidos de centro e centro-direita no Congresso, para os quais parte do eleitorado de Bolonaro deve retornar, seguindo o que ocorreu na eleição atual.

Mas também é da opinião que prever o efeito sobre o pleito presidencial é mais complicado. “Não é porque o MDB venceu a eleição municipal que terá o próximo presidente”, diz.

Como mostrou a Folha, está em curso uma articulação para montar uma chapa competitiva de centro-direita para a eleição presidencial, reunindo nomes como o apresentador Luciano Huck, os ex-ministros Sergio Moro e Luiz Henrique Mandetta e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

O bom desempenho do DEM na eleição municipal, em que aumentou seu número de prefeituras em 74%, deve também valorizar seu cacife para participar dessa frente.

Para a cientista política Silvana Krause, a eleição deste ano enviou sinais para o pleito de 2022.

“As eleições municipais dão alertas, que podem ser aprofundados a depender do comportamento dos partidos e das lideranças políticas”, afirma Krause, professora e pesquisadora na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).

Ela afirma que o principal destes alertas é para a nova força do “centrão”, o discurso moderado e o declínio neste momento de atitudes que ela chama de “guerreiras” de candidatos e partidos.

Tudo pode mudar, no entanto, em caso de prolongamento da crise do coronavírus e recessão econômica profunda, abrindo espaço para mais uma dose de polarização.

A fragmentação do chamado “centro”, diz ela, é o principal empecilho para a construção de uma candidatura presidencial competitiva. “Achar um centro com uma cara própria vai ser um desafio grande”, diz.

Com relação à esquerda, ela projeta um efeito imediato do crescimento do PSOL neste campo ideológico, mas faz uma ressalva.

“O PSOL já faz uma certa sombra ao PT, mas ainda precisa chegar ao poder para mostrar a que veio. Provavelmente quando isso ocorrer vai sofrer uma metamorfose”, afirma.

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