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terça-feira 2 de março de 2021 às 13:56h

Operação sugere negociação com informações privilegiadas nas ações da Petrobras

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Nem todo mundo tomou prejuízo com as ações da Petrobras depois que o presidente da companhia foi demitido por Jair Bolsonaro. Na semana passada, enquanto o valor da petroleira derretia no mercado, alguém ganhou muito dinheiro com opções de venda de ações da petroleira, em operações atípicas, que sugerem o uso de informação privilegiada (ou insider trading) conforme a coluna de Malu Gaspar no O Globo.

O lucro pode ter chegado a R$ 18 milhões, segundo cálculo feito a partir de dados públicos da B3, a bolsa de valores de São Paulo. Não é possível saber quem realizou as operações, porque essa informação é protegida por sigilo bancário. Mas a coluna apurou que ambas foram realizadas por meio de uma mesma corretora.

As opções dão a seu portador a garantia de que ele poderá vender a ação de uma empresa a um agente de mercado por um determinado preço, na data do vencimento. Em geral, são usadas por investidores para se proteger de oscilações bruscas no valor dos papéis, mas também podem ser usadas para apostar contra ou a favor de uma empresa. Na quinta-feira dia 18, segundo os registros disponíveis no site da bolsa, foram feitas duas grandes transações com uma opção, a PETRN 265.

Quem tivesse o papel tinha garantia de vender ações da Petrobras no vencimento — a segunda-feira dia 22 – a R$ 26,50. Mas na quinta-feira dia 18, quando essas opções foram compradas, a ação valia R$ 29,27. Só compraria a opção, portanto, quem acreditasse que a cotação da estatal na bolsa cairia pelo menos 8% na sexta-feira, para poder adquiri-la mais barato e vender com lucro pelos R$ 26,50 combinados.

Era uma jogada arriscada, já que faltava apenas um dia útil para o vencimento da opção, e por isso a PETRN265 estava sendo vendida por R$ 0,04, 80% menos do que o preço do lançamento do papel. Pois quem a comprou ou tinha uma fé extraordinária na queda da Petrobras – ou sabia de algo que os outros investidores não sabiam.

Naquela tarde, às 16h45, segundo a agenda oficial do Palácio do Planalto, o presidente da República se reuniu com os ministros Bento Albuquerque, das Minas e Energia, Paulo Guedes, da Economia, Tarcísio Freitas, da Infraestrutura, além de Luiz Eduardo Ramos, responsável pela articulação política, Walter Braga Netto, da Casa Civil, e Augusto Heleno, da Segurança Institucional. A reunião terminou às 17h15m. Mais tarde, em sua live, o próprio presidente da República diria que o encontro foi para discutir medidas de redução dos preços dos combustíveis.

Vinte minutos depois que a reunião acabou, às 17h35m do dia 18, houve uma primeira aquisição de 2,6 milhões de PETRN265. Em mais nove minutos, às 17h44m, foi feita mais uma compra, desta vez de 1,4 milhão de títulos. Juntas, as 4 milhões de opções custaram 160 mil reais aos compradores. Segundo os dados da B3, ninguém nunca tinha comprado tantos desses papéis de uma única vez. Até aquele momento, o maior lote já vendido tinha sido de 86,3 mil PETRN265.

Às 19h, o presidente da República começou sua live semanal. “Alguma coisa vai acontecer na Petrobras nos próximos dias”, disse ele, para depois acrescentar: “o presidente da Petrobras falou que determinava o preço e não tinha nada que ver com os caminhoneiros, e isso tem uma consequência, obviamente”. A partir daí, as ações só caíram.

No dia seguinte, sexta-feira, a queda foi mais branda, de 3%. Só que, depois do fechamento do pregão, Bolsonaro anunciou que Roberto Castello Branco seria substituído pelo general Joaquim da Silva e Luna. Na segunda, as ações caíram 20,1%, de R$ 27,33 para R$ 21,77. Só naquele dia, a Petrobras perdeu 28,2 bilhões de reais em valor de mercado.

Mas quem tinha as PETRN 265 faturou alto. Não é possível saber ao certo quando opções foram vendidas, porque essa informação é protegida por sigilo. Caso tenham sido vendidas ao longo do dia 22, que era o dia do vencimento, os papéis comprados por R$ 160 mil reais podem ter rendido a seus donos até R$ 18 milhões – um lucro de 11.125% .

Duas operações realizadas num intervalo de nove minutos levaram a lucro milionárioDuas operações realizadas num intervalo de nove minutos levaram a lucro milionário | Reprodução / site da B3
Gestores de investimento consultados pela reportagem afirmaram, sob anonimato, que as características da negociação sugerem o uso de informação privilegiada, crime punido com pena de um a cinco anos de prisão e multa de até três vezes o valor conseguido de forma ilícita.

Os nomes dos compradores dos papéis são protegidos por sigilo, mas a reportagem teve acesso a informações de sistemas internos de operadores de mercado mostram que as duas compras do dia 18 foram feitas usando a plataforma de uma mesma corretora, a Tullet Prebon, conhecida por atender principalmente a grandes fundos e investidores institucionais.

Nesse tipo de operação, nem sempre a corretora está diretamente envolvida. Ela pode estar somente prestando serviços. Mas seu setor de compliance tem o dever de comunicar qualquer movimentação suspeita à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que regula e fiscaliza o mercado de capitais. Procurei ontem a Tullet Prebon para saber se era o caso, mas não tive resposta. Já a CVM não informou se já conhecia a transação, nem se tem alguma investigação a respeito.

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